O tempo que não dedico a mim, não o dedico a ninguém. O tempo que passa enquanto mais nada se passa, fica pelo caminho. O rio, elegante e fiel, continua a correr, selvagem, não se detendo pelo tempo. Eu? Quando não corro visivelmente, estou parada. Paro o meu todo. Não evoluo, não penso, não sinto, não sei. Tenho todo o tempo para mim, e não me dedico. E rasgo-me. Por não desenhar o tempo. Por não conhecer as suas possibilidades. Poderia ser apenas um corpo autómato, sem âmego. Ninguém notaria. Eu notaria. Quando o tempo passa muito, aquele passar que dá para ver a sementeira dos vizinhos a crescer, então, acordo, sonolenta, do tempo em que não vi nenhum, não fiz nenhum nem pensei nenhum. Meu Deus! Que cenouras tão grandes que crescem no quintal do vizinho! E no meu?