__Sonoridades_Momentâneas__

Quarta-feira de cinzas. Dia de queimar as sobras do Carnaval. Dia de meditação e de interioridade. Quaresma. Manter tudo como está. Ou vontade de mudar. O Senhor aumenta ou diminui a minha liberdade? Como tomo as minhas decisões? Sozinha ou com o Senhor? Corremos o risco de viver em auto-adoração, fechados na necessidades de si próprio? Vivemos fechamos em si próprio, idolatria do próprio. O mundo vazio em que estou. Preencho-o contigo. Preencho-o Contigo. Fico com medo de estar tão contente. Fico com medo de sentir com tanta intensidade. Fico com medo. Medo de não ser real, de não ser concreto. Medo do vazio que vem a seguir. E não sinto mais. E não penso mais. E afogo-me. Hoje já é dia 23 de Fevereiro. O tempo passa tão bem e tão rápido.

Não me deixes. Não venhas ao meu mundo apaixonar-me e desenlaçar-me das fitas que me prendem. Não posso soltar das amarras para cair, em seguida, na tua ausência. Se vens, vem como ser completo. Se és, sê comigo plenitude. Eu estou aqui. Sincera e apaixonada. Fazes bater mais rápida a minha vida. Energizas o poder que tenho. Sintonizas os meus ritmos e as minhas pressas. Estar contigo é estar mais com o Eu de quem gosto. Estar ao teu lado é aproximar-me de quem sou no íntimo. Poder sentir-te e ver-te a ser, ali, ao estender da mão. Poder conhecer-te. Poder receber o teu sorriso. Saber que és ser de amor e de compaixão e de ambição, abertamente, ao meu lado. Saber de ti. Ter-te, ali, ao meu lado. Que privilégio. Que bênção foste, hoje, no meu dia. Um ritmo ligeiro. Um pulsar ligeiro e constante e coerente. Um apoio. Um abraço. Um sossego. Obrigada. Obrigada por tudo. Quero chorar. Por ter. Por ter tido. Chorar pelo que sinto, ainda que não tenha. Chorar pelo que so

Livre para aceitar trabalhos e propostas. Livre para me encaminhar para sonhos. Livre para ser livre do relógio e de mim mesma. E, ainda assim, cheia de ansiedades. Dividir-me entre projectos e trabalhos, como sempre foi. É quem eu sou. E é aqui que me perco e dissolvo. Mas agora quero manter-me em pé. Perceber prioridades e afastar aquelas que não me servem no mundo do já. Todos gostamos de atenção, de carinho, de cuidado. Quando aceitamos e quando estamos disponíveis para sermos cuidados, que bem nos sabe. Ainda que aceitemos apenas egoistamente. Ainda que saibamos de antemão que não vamos retribuir, dar tanto como o outro quereria, sonharia, esperaria. Hoje, egoistamente, permito que venhas a mim e que me mimes. Ainda que...

Depois da excitação vem sempre este vazio. Foi a aproximação. É o desejo vivo e carnal da tua presença comigo. Da tua presença na minha vida. Quero-te. Por diversão. Ainda que não haja profundidade profunda em vista. Quero-te. Como és. Quero descobrir-te, conhecer-te. Ver o bom e o mau. E fico no vazio. Fico na ausência. Sei que não me direcciono para onde "devo". Sei que me apaixono e me sedimento em lugares fugazes e frívolos. Sei. E, então, chega-me o vazio. E nao sei bem como gerir tudo isso de forma simples e eficazes e com pouco sofrimento. Onde estás, consolação?