Abrir-me a barriga e deixar circular as ideias mais macabras, os anseios mais profundos, os temores.
Deixar sair tudo.
Procuro descobrir-me, ao mesmo tempo que sinto que tudo me correu mal.
Vagueio por este mundo sem perceber ao certo o que quero e deixo-me levar. Mais pensando que tudo correria melhor se eu não interviesse do que agindo sobre mim e sobre os outros.
Não sei se me entendes, se entendes este desespero de ter medo. De ter medo de ser a mais, de ter medo de ser a menos, de nunca chegar a ser eu.
Tenho sempre uma alma qualquer a restringir-me, a chamar-me a atenção para uma qualquer gaff que me tenha dado prazer cometer. Sim, porque eu sou isso, eu sinto-me isso. Sinto-me feliz, a falar, a comunicar, a saber que todos pensam o limite de mim, que acham que não faço o mais devido, mas a ser feliz, porque faço o essencial de mim e porque no fundo concordam comigo.
Mas que Merda! Ando, ando, ando e arranjo sempre atrasados, a quem eu confiro o poder de me controlarem, de me explicarem o que eu deveria ter feito.
Mas afinal, quem sou eu? Não serei eu tão crescida como eles para conseguir discernir o que pretendo e o que não pretendo que pensem de mim? Sempre tive essa capacidade, de me auto-constituir segundo as situações. Isto ultrapassa-me.
Mas não vos quero mal só a vós, quero sobretudo a mim.
Por um só motivo: se eu sou quem sou e quem quero ser, devo ser capaz de me impor e de, quando estão comigo, verem que faço as coisas com segurança. Alguém que faça uma grande asneira, mas com confiança, não é mal-vista. É vista como alguém que pretende ser diferente e que sabe o que faz, e que o faz bem de acordo com o seu objectivo. E o meu objectivo pode não ser o mesmo que o vosso. E não o é certamente, porque se o fosse, as minhas atitudes seriam entendidas como certas, de acordo com o meu objectivo.
E aqui falamos de respeito. Respeito pelas atitudes diferentes, pelos objectivos de vida, de amor, de paz diferentes. Não faço mal nenhum a ninguém, não costumo chatear ninguém, tenho o mínimo sentido de oportunidade e do ridículo. Mas, será que, só por confiarem em mim e naquilo que quero para mim e que faço, deixarem-me ser como sou sem me estarem sempre a dizer que faço as coisas “mal”? (Entenda-se por “mal” diferente daquilo que consideram adequado)
Todos nós somos livres, será que só por desfrutar desse direito mais do que os outros devo ser criticada? Eu não sou mal educada, nunca o fui. Não escandalizo, não me exponho. Apenas brinco, ouso, desfruto dos momentos, puxo a corda, levo as gargalhadas mais longe.
Não admito mais. Não admito mais.
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