Avançar para o conteúdo principal

Circulações


Já há algum tempo que eu por este mundo ando. E nunca isto me tinha soado tão real e tão presente. Quando digo isto refiro-me às teias de relações, às movimentações que fazemos pelo tabuleiro dos amores e da vida.
Eu sinto-me no tabuleiro daqueles jogos que têm uma imagem a ser composta, dividida em vários quadradinhos, e vamos ajustando quadrado a quadrado com vista à harmonia plena. Cada porção do puzzle vai moviemntando-se com o objectivo de chegar ao seu lugar, ao final da sua jornada. Cada pecinha sabe para onde vai (mesmo que só intimamente). Nem sempre sabe a forma de lá chegar. E cada uma segue a sua jornada.
Por vezes aborrecemo-nos daquele baile orquestrado, mas meio desorganizado e tudo fica a meio. Algumas porções encontram a harmonia, contentes, sabendo que chegaram ao final e que aquele local é de longe o mais propício de todos para a sua realização. Outras pecinhas continuaram no local onde estavam, que por vezes é o adequado, mas outras, sem o saberem (por não conhecerem a paisagem completa) aceitam aquela posição, naquele local, com aquela companhia.

Pergunto-me como me terá vindo esta metáfora? Mas não há muitas respostas possíveis. É isto que sinto. É assim que vejo todos os seres adoráveis que tenho à minha volta. Todos nós nos movimentamos por estes e outros lados, com encontros e desencontros.
Vejo amigos de infância, que nunca se prestaram muita atenção, desabrocharem um para o outro. Escolherem o outro para a partilha mais dinâmica e para a companhia mais real. De repente, depois de muitos passeios, um regresso à procura da simples amizade, de infância, com as complicações e compreensões da juventude, mas sem a novidade da pessoa, com todos os alicerces do passado. Sem se perceber muito bem como, passa a ser essa nova visão da vida que supera, que domina.

Estamos nós, muito sossegados, mas muda um parâmetro qualquer e sentimos que algo deve mudar no nosso coração. E assim posso desenhar, sem grande problemos de consciência ou de ferir susceptibilidades a teia circular de amigos/mais do que isso que me rodeiam. Estamos ou estivemos todos ligados.
As energias que circulam entre nós colocam-nos assim, num emaranhado. Eu quero-te a ti, agora. Mas já quis outro. E tu já quiseste outra. E desta forma seguimos.

Há mais vida lá fora do que pensamos. Estou espantada. Estou magnificamente espantada. Olho à minha volta e agradeço tudo isto, todas estas pessoas, estas companhias, estes namoros que resultam (ou não) e me vão rodeando. Sinto-me numa teia.
Agora que se começa a consolidar a decisão desta separação torno-me mais livre, aos poucos. E tu também. Somos mais para os outros. Mais para nós. Eu sinto-me mais apaixonante. Mais apaixonada.

Quando estamos libertos do peso da fidelidade/educação/moderação/etc estamos mais aptos à sensibilidade pelos outros, a dar-lhes atenção e a olhar para eles. Era o que eu ouvia da homilia de Domingo. É o que sentimos em relação aos "bons" padres (aqueles que seguem mais a imagem do J.Cristo), que nos ouvem como somos, que nos vêem como somos. Mas também que não deixam de ser quem são, no fundamental.
E o facto de não haver pesos de responsabilidades faz-nos apetecer estar verdadeiramente com todos. Como eu dizia, eu sou para todos e amo-o.
É fácil apaixonarmo-nos por estes dispostos e disponíveis. Porque temos sede de atenção. Sede de miminho. E migalhas, apesar de migalhas, podem ser vistas como outras coisas. Mas não me importo. Não sou oferecida. Sou atenciosa e sensível a vocês que me rodeiam.
Mas há sempre como que uma hierarquia. Que vocês nao me deixam escolher e me querem impor. Porque vocês querem ser os mais importantes na minha vida, no meu coração, no meu pensamento, nos meus mimos. Mas o amor é livre. Eu não consigo hierarquizar-vos linearmente. Apesar de me apetecerem uns mais que outros. E assim sou feliz.

Fica então um agradecimento a todos vós. Que se mostram bons amantes e bons dedicados e apaixonados. Agradeço por me fazerem sonhar com este jogo de pecinhas que interagem, com muita subtileza, mas também com muito amor.
Ultimamente tenho vivido com amorosos.

Que Deus vos guarde. Como são e como querem ser. Até que o queiram ser. Quando deixarem de querer, eu sei que sabem que podem contar comigo. Farei força para vos mudar de sítio e de companhia. Mil beijos. Muito apaixonados.

Comentários

  1. Eu n concordo com o puzzel q descreves pq penso k a minha vida nd tem a ver com isto...Talvez a tua tenha. Não axo mt q as pessoas vao e voltem...as q vao quase certamente nao voltam!Quanto à hierarquia de ápetecimentos relacionativos´talvez tenhas razão...N to inspirada...N me apetece escrever!Pode ser q discuta ctg acerta disto dps,oralmente,porque escrevendo n tem a minima piada.
    Continua apaixonada...ama td o que tens e aquilo q queres ter...

    ResponderEliminar
  2. o que se passa aqui é que isto é de um sentimentalismo picuinhas que cumula com a dimensão aberrante do post. assim sendo me despeço, com a contabilidade feita, mais um comment e a tal ideia de que fulano tal até leu isto.
    não leu.
    não nos iludamos.
    não leu.
    concordar com o puzzle. concordo.
    se a inês for gira, podemos falar de puzzles até de madrugada.
    horas a fio a falar de puzzles. beltrano não leu. nem quer. deus nos guarde.
    um abracinho e um beijinho.
    saúdinha da boa.

    ResponderEliminar
  3. errata.
    saudinha é sem acento.
    não se faz, isto.
    não se faz.
    chicoteio-me.
    já está e dói.

    ResponderEliminar
  4. Seria interessante saber por que dizes ser sem acento.

    ResponderEliminar
  5. Sem entrar em grandes explicações, é sem acento pela razão de que a sílaba tónica de saudinha diz respeito ao "di" e não "sau", o que invalida a utilização do acento na sílaba átona.
    Desconfio que seja isto.
    O meu agradecimento, Maria, pela oportunidade de poder dizer mais parvoíces. Andava um pouco ressacado.
    Um beijinho grande.

    ResponderEliminar
  6. ahhh! finalmente!! minha alma se iluminou! eu juro que levei um certo tempo a pensar em que parte do texto "eu dizia ser sem acento". "MAs eu nunca disse ser com acento?! Porque haveria de ser com acento?!"

    Finalmente chegou luz.

    ResponderEliminar
  7. Obrigado por te dignares responder. Eu acrescento mais informação.
    A palavra é acentuada para evitar a formação do ditongo (au), e assim pronunciar-se sa-ú-de, em vez de sau-de.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

O Primeiro Amor - Miguel Esteves Cardoso

É fácil saber se um amor é o primeiro amor ou não. Se admite que possa ser o primeiro, é porque não é, o primeiro amor só pode parecer o último amor. É o único amor, o máximo amor, o irrepetível e incrível e antes morrer que ter outro amor. Não há outro amor. O primeiro amor ocupa o amor todo. Miguel Esteves Cardoso – Os Meus Problemas (1988)

Avolia - Porque sonhar às vezes custa

Está mais do que visto, na minha vida, que este expôr e re-expôr que se deve fazer O QUE APETECE não é à medida do meu mundo. Estas últimas semanas de avolia foram o expoente disso. Há estadios intermédios nos quais o que apetece é o nada. E o nada, agora, não me leva onde eu quero. Quando me concentro com muita muita força, re-sinto como sendo meus aqueles projectos, sonhos, devaneios nos quais já não acreditava. Não acreditar. Não apetecer. Clinicamente, chamamos-lhes desesperança e avolia . Caracterizam, entre outros, o estado de não-querer-ser . Não-se-querer-conhecer-no-expoente-máximo . Mesmo havendo réstias do querer, não conseguir. É o não ver razões para. Então, aquilo que apetece fica-se pelo medíocre . E depois fica-se pelo nada . E ir atrás do que apetece é menos do que o óptimo. Por isso, nem tudo nem nada. Vejo, agora, que é importante haver planos e disciplina. Vejo, agora, que é importante manter-se efectivado a directivas a cumprir. Mesmo que não apeteça, houve um dia ...

Vontade de Morrer

Tenho vontade de morrer. Última vontade de desaparecer no mundo. Fusão com o Outro, que corre além de mim. Ser aquilo que sou em suspiro. Suspirar, e ser já, antes da prova, aquilo que sou. Vontade de morrer para, ultimamente, ser. Não ser arrastada ou obrigada ou limitada. Ser. Igual a mim, no infinito. Sem lágrimas, sem dor, sem sofrimentos. Ser. Com o Tudo de Tudo, no mundo do infinito sem igual. Morrer para ser.

Que nunca ninguém diga a outro que não é capaz!

"Que nunca ninguém diga a outro que não é capaz. Que nunca diga o que pode ou não pode fazer, do que é ou não é capaz. Ninguém sabe o que vai dentro das paredes, ninguém sabe o que corre nas artérias, a que velocidade, com que fúria, com que dor. Ninguém sabe nada senão de si mesmo, e muito bom é quando se sabe de si mesmo, quanto mais pensar saber dos outros. Impor limites ao seu semelhante é est ender-lhe dores e frustrações próprias, é projectar nos outros os nossos próprios receios, é achar que se eu não consigo, se eu tenho este problema, então também tu, por muito que queiras, os terás. Se eu não sou capaz, tu também não. Se a mim custa, a ti custará mil. Tristes profecias. Todas de desgraça. A experiência não é transmissível. Sabe quem vive. Sabe de si. A experiência dos outros é outra vida. Não é a nossa."

mais Amar e Servir

Jesus, será que a minha vida é orientada para Ti? Para mais Te amar e servir? Ao serviço de quem amo? Ao serviço da humanidade que acarinho? Aquilo que faço é para o meu ego, para o dinheiro, para a vida rica e com pouco trabalho? Ou aquilo que faço é orientado para Ti? Eu amo a vida. Eu amo sentir que estou Orientada para e por Ti. E perco-me. E sorrio no mundo leve e célere e pressionante e que quer sempre mais. Eu quero mais e mais. E não olho para quem sou. E a Ti regresso. Contigo me sento. A Ti entrego o meu dia. Para mais Te amar e servir.

Recomeça se puderes

Sísifo Recomeça... Se puderes Sem angústia E sem pressa. E os passos que deres, Nesse caminho duro Do futuro Dá-os em liberdade. Enquanto não alcances Não descanses. De nenhum fruto queiras só metade. E, nunca saciado, Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar. Sempre a sonhar e vendo O logro da aventura. És homem, não te esqueças! Só é tua a loucura Onde, com lucidez, te reconheças... Miguel Torga  TORGA, M., Diário XIII.

Princípio e Fundamento. A Indiferença Inaciana.

“ O homem foi criado para louvar, reverenciar e servir a Deus Nosso Senhor, e assim salvar a sua alma; e as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o Homem, para que o ajudem a conseguir o fim para que é criado. Donde se segue que há de usar delas tanto quanto o ajudem a atingir o seu fim e há de privar-se delas tanto quanto dele o afastem.  Pelo que é necessário tornar-nos indiferentes a respeito de todas as coisas criadas em tudo aquilo que depende da escolha do nosso livre-arbítrio, e não lhe é proibido.” in Princípio e Fundamento, Santo Inácio de Loyola A indiferença Inaciana não convida ao desapego como finalidade, mas à direcção dos nossos apegos, conforme nos aproximam ou afastam de Deus. O que me inquieta? O que me traz paz?  O que identifico que vem do mundo? E o que vem de Deus?  O que me frustra? O que me realiza? O ser interior superficial é sempre mais ruidoso e exigente, está ao nível dos nossos desejos mais imediatos e qu...