Lágrimas que não caem.

Tenho frio.
Chega o Inverno e ficar no computador dá-me frio.
Apenas mãos e olhos se mexem. O cérebro pouco trabalha.
Só recorro à memória, às sensações. Ao amor pela companhia.
MSN em dias tristes desacompanhados faz-me bem.
Re-aprendi que a qualidade que os outros me dão depende da qualidade que para eles invisto.

Não gosto de ti, porque me tratas mal. Mas gostas de mim, porque te trato bem.
Talvez eu apenas te sinta melhor do que tu te sentes. Talvez te veja com os olhos do futuro.
E fazemo-nos chorar. Por dentro, talvez apenas.
O sentimento é poderoso. Sentir companhia e compreensão faz-nos sonhar.
Ou então, quase só sonhamos com sentir companhia e compreensão.

E aqui se tomam as pequenas decisões.
Primeiro decido o que quero para mim e acompanho-me pelo trilho? Ou primeiro faço-me à estrada e decidirei?

Apercebi-me em ti. Pelo teu sofrimento que quero partilhar, porque ninguém ousou partilhar o meu. Partilho teu sofrimento. Rezo para que te compreendas. Te ames como és e como eu sou e não me amei. Suspiro por ti. Pelos olhos que não queres abrir. Nada mais tens a aprender. Abre-te e disserta-te. Com calma, não vai doer, prometo. Porque eu te amo, como és.

Eu sei que sabes que és. Apenas sendo-o, como te gostas.
Continua-te. Abre-te. Ousa mais, fecha menos. Abrir é dificil. Porque sempre nos fecharam. Sempre, não agora, não antes, não depois.

Mas eu estou a aqui. E és tu que me dizes, com o teu silêncio decorado, que chegou a hora.
Não esperes mais, vá, faz-te acontecer-te.
Se os outros gostam de ti assim, muito mais gostarão quando aconteceres. Porque eles sempre gostaram de ti pelo que viram nos olhos. E os olhos são aquilo que sempre foste e continuarás a ser. Mesmo depois de te abrires. Livros abertos ou fechados têm o mesmo cheiro. Quem o ama ama sempre. Não para sempre, não desde sempre. Mas enquanto tudo se mantiver.

Se não te quiserem, não incomodes. Porque solidão é mais agradável do que sentir que incomodamos. Sozinhos fazemos mais do que poderíamos pensar enquanto estamos acompanhados. Amo o meu estado de recem-livre. Faz-me sonhar. Com o que foi e com o que posso ser. Sorrio. E não molho a cara. Porque as lágrimas não caem.