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Lembrar e fugir

Lembrei-me, de repente, no carro, enquanto vinha de Salir, nesta noite de Natal, que me aflige muito deixar de confiar aos meus pais uma série de responsabilidades, ou seja, transferi-las para outra pessoa.

Se eu tivesse que escolher uma coisa que neste momento fulminasse o que sinto, seria, de longe, essa: o facto de eu colocar em alguém competências dos meus pais. E são coisas muito simples, como por exemplo, ser tapada à noite, ou descascarem-me fruta, ou ajudarem-me a vigiar as horas a que me deito. Para o bem e para o mal, os meus pais são isto para mim, este somar de pequenas coisas (que muitas vezes me agoniam). E agora voltam a agoniar-me.

Acho que a própria ideia base que me faz estar com alguém não encaixa em mim. Eu penso sempre que estou ou estarei com alguém para partilhar, ou seja, para mostrar partes de mim e querer ver outras partes, comparar a minha forma de estar com a de outra pessoa. Curiosidade. Mas não foi isto que imaginei para mim quando fosse grande. Quando eu for grande vou escolher outra pessoa só pelo uso que fazemos do tempo. Não quero mais conversas sérias só para me certificar de quem és ou mostrar quem sou, pois isso me agonia.

Sinto-me aborrecida com isto tudo. Dou por mim ansiosa porque sim e ansiosa porque não. Segundo os padrões deveria estar já a Sim, segundo padrões de outros deveria estar já a Não.

Enquanto te brindo com o meu silêncio (em vez de te assolar com teorias de Lénise) descubro o meu mundo, que tento camuflar. “Que muito se vive aí dentro”, é um facto.

Aborreço-me de tudo isto tremendamente, mas não sei o que desejar. Não tenho sonhos concretos que me entusiasmem para concretizar. Tenho sim. Eu ficaria muito grata e feliz por estudar. Isto sempre confiei aos meus pais, a supervisão dos estudos. E quando tu quiseste tomar as rédias de este capítulo, começou a ser o princípio do fim. Há assuntos que, apesar de só o ver agora, não os ofereço.

Este é um assunto concreto a concretizar. E tudo o resto que me mina?

Continuarei em oração.

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