1902-1987
Carlos Drummond de Andrade, poeta Modernista brasileiro, nascido em Minas Gerais no distante 1902. Estuda em Belo Horizonte e Nova Friburgo, formando-se em Farmácia. Foi um dos lançadores do Modernismo no Brasil. Da sua obra, deixa, em estilo muito próprio, entre contos e crónicas, a rima que abrange grandes temas da sua actualidade, desde a política à guerra, a família, a amizade e a solidão. Neste trabalho, a curiosidade sobre este autor surge, principalmente, quando na recta final da sua vida, o tema do erotismo entra e estabelece-se na sua produção literária. Títulos como “Nudez”, “A Paixão Medida”, “Corpo” e finalmente “O Amor Natural”, publicado 5 anos após a sua morte, em 1992.
"AO DELICIOSO TOQUE DO CLITÓRIS
JÁ TUDO SE TRANSFORMA, NUM RELÂMPAGO.
EM PEQUENINO PONTO DESSE CORPO,
A FONTE, O FOGO, O MEL SE CONCENTRARAM.
VAI A PENETRAÇÃO ROMPENDO NUVENS
E DEVASSANDO SÓIS TÃO FULGURANTES
QUE NUNCA A VISTA HUMANA OS SUPORTARA,
MAS, VARADO DE LUZ, O COITO SEGUE.
E PROSSEGUE E SE ESPRAIA DE TAL SORTE
QUE, ALÉM DE NÓS, ALÉM DA PRÓPRIA VIDA,
COMO ATIVA ABSTRAÇÃO QUE SE FAZ CARNE,
A IDÉIA DE GOZAR ESTÁ GOZANDO."
JÁ TUDO SE TRANSFORMA, NUM RELÂMPAGO.
EM PEQUENINO PONTO DESSE CORPO,
A FONTE, O FOGO, O MEL SE CONCENTRARAM.
VAI A PENETRAÇÃO ROMPENDO NUVENS
E DEVASSANDO SÓIS TÃO FULGURANTES
QUE NUNCA A VISTA HUMANA OS SUPORTARA,
MAS, VARADO DE LUZ, O COITO SEGUE.
E PROSSEGUE E SE ESPRAIA DE TAL SORTE
QUE, ALÉM DE NÓS, ALÉM DA PRÓPRIA VIDA,
COMO ATIVA ABSTRAÇÃO QUE SE FAZ CARNE,
A IDÉIA DE GOZAR ESTÁ GOZANDO."
Amor, Pois é a palavra essencial
De rompante, o livro de poemas “O Amor Natural” choca a sociedade literária. Ninguém esperava do “velhinho” e sossegado poeta tais pornográficos conteúdos. Segundo o próprio Drummond, na sua escalada de poemas lúbricos, tal se devia à sua timidez. Verdade é que este poemário foi escrito nos anos setenta, tendo deixado Carlos uma ordem para a sua publicação, apenas após a sua morte. Facto é que a sua poesia sempre teve laivos de erotismo, mas houve como que uma emancipação radical no seu estilo de escrita. É importante interiorizar que Carlos viveu os seus anos de vida na grande explosão de cultura e mudanças de mentalidade do grandioso século XX. No início do século, o erotismo de carácter mais público e socialmente melhor aceite passava por um tornozelo ou um pescoço mais exposto. Radicalmente diferente da realidade dos anos 50, onde se exibiam agora, publicamente, grandes áreas do corpo e a pornografia tornava-se uma indústria em grande crescimento dado a sua procura.
Nesta obra, de teor fortemente marcado pela realidade crua do sexo entre o ser humano, o poeta dispõe de forma totalmente desinibida, ao mesmo tempo tão simples, a glória do orgasmo e da união dos corpos. Chocante, ao mesmo tempo intenso. Prova, as palavras simples a que recorre, que fazem corar qualquer leitor mais desprevenido.“A LÍNGUA LAMBE AS PÉTALAS VERMELHAS
DA ROSA PLURIABERTA; A LÍNGUA LAVRA
CERTO OCULTO BOTÃO, E VAI TECENDO
LÉPIDAS VARIAÇÕES DE LEVES RITMOS.
E LAMBE, LAMBILONGA, LAMBILENTA,
A LICORINA GRUTA CABELUDA,
E, QUANTO MAIS LAMBENTE, MAIS ATIVA,
ATINGE O CÉU DO CÉU, ENTRE GEMIDOS,
ENTRE GRITOS, BALIDOS E RUGIDOS
DE LEÕES NA FLORESTA, ENFURECIDOS.”
DA ROSA PLURIABERTA; A LÍNGUA LAVRA
CERTO OCULTO BOTÃO, E VAI TECENDO
LÉPIDAS VARIAÇÕES DE LEVES RITMOS.
E LAMBE, LAMBILONGA, LAMBILENTA,
A LICORINA GRUTA CABELUDA,
E, QUANTO MAIS LAMBENTE, MAIS ATIVA,
ATINGE O CÉU DO CÉU, ENTRE GEMIDOS,
ENTRE GRITOS, BALIDOS E RUGIDOS
DE LEÕES NA FLORESTA, ENFURECIDOS.”
A língua lambe
Don_Pulo
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