Avançar para o conteúdo principal

Saber compreender o micro-pneu

Quando olham para os vossos últimos dias e têm a sensação de que foram muito demasiado confusos, que atitude tomam?

Sexta, Sábado, Domingo, Segunda.

Quatro dias durante os quais pouco ou nenhum trabalho de faculdade avancei.
Que me fizeram sonhar, apesar de não conseguir realizar quase nada por exaustão.

Pensei em cozinhar pizzas caseiras, adoro.
Pensei em fazer uma capa condigna para os DVD's.
Pensei em fazer finalmente a História Clínica.
Pensei em fazer finalmente o Portefólio, adoraria.
Pensei em arranjar-me e ir ao jantar maravilhosamente maravilhosa. E fui, qual freira com vestido apertadíssimo e elegantíssimo, que ressalta o meu corpo cuidado, com ligas provocadoras e escondidas. Com camisa branca, adornada de folhos sumptuosos. E fui. E estava maquilhada. E estava deliciosa. E deliciei-me. E alcoolizei-me, como nunca antes. Apenas porque o vinho era saboroso. E porque estava com quem mais confio nesta vida. E os elogios existem-me e mantêm-me no meu lugar. Porque estes, sim, são reflexo do meu âmago encontrado.

E pensei em mais outras tantas coisas, sem tanto sucesso.
Dediquei-me egoistamente a mim. Foi tão bom. É tão bom. Olhar para si própria e saber que houve tempo para nos amarmos e nos cuidarmos. Eu estou vaidosa. E abraço-me a mim. E sorrio para o espelho, com olhar cúmplice de quem sabe que aquela do espelho me compreende, não me julga mais ferozamente, como se fosse alguém totalmente exterior e separada de mim.

Porque o próprio conceito de individualização pressupõe separação. O facto de aceitarmos o outro como distinto de nós permite que o aceitemos a ele como ele é. Não de deve esperar do outro aquilo que esperamos de nós próprios. Isso condiciona, infalivelmente, frustração no outro. Porque ver o outro como separado permite que o toleremos e o compreendamos, mas não deve ser em demasia, para que ele não se sinta só.
Assim, agora, quando olho ao meu espelho, lembro-me de quem me dizia "Estou em dieta, por causa disto (apertando um micro-pneu). E voltei a ir ao ginásio (olho e rio-me. procurava-se então a perfeição mais perfeita)." É a vaidade. É o amor-próprio. O carinho por si mesmo. Carinhosamente, na confiança que o que sentimos é o melhor que temos a fazer, empreendermo-nos nos nossos sonhos, mesmo que minúsculos.
Gosto de estar com o mundo ligeiramente maquilhada. E com saias. E a sorrir, sem contrair os músculos mecanicamente. Gosto de ir no autocarro e de ter as crianças a virem brincar comigo, qual adulto em Nirvana.
Gosto de gostar. De tudo, indiscriminadamente.
Gosto de compreender, mesmo que seja irracional, ver que ao outro faz sentido é compreender por empatia, sem se ter compreendido.
Gosto de gostar.

E, nestas confusões que os meus dias têm sido, isso é o meu princípio motor.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O Primeiro Amor - Miguel Esteves Cardoso

É fácil saber se um amor é o primeiro amor ou não. Se admite que possa ser o primeiro, é porque não é, o primeiro amor só pode parecer o último amor. É o único amor, o máximo amor, o irrepetível e incrível e antes morrer que ter outro amor. Não há outro amor. O primeiro amor ocupa o amor todo. Miguel Esteves Cardoso – Os Meus Problemas (1988)

Avolia - Porque sonhar às vezes custa

Está mais do que visto, na minha vida, que este expôr e re-expôr que se deve fazer O QUE APETECE não é à medida do meu mundo. Estas últimas semanas de avolia foram o expoente disso. Há estadios intermédios nos quais o que apetece é o nada. E o nada, agora, não me leva onde eu quero. Quando me concentro com muita muita força, re-sinto como sendo meus aqueles projectos, sonhos, devaneios nos quais já não acreditava. Não acreditar. Não apetecer. Clinicamente, chamamos-lhes desesperança e avolia . Caracterizam, entre outros, o estado de não-querer-ser . Não-se-querer-conhecer-no-expoente-máximo . Mesmo havendo réstias do querer, não conseguir. É o não ver razões para. Então, aquilo que apetece fica-se pelo medíocre . E depois fica-se pelo nada . E ir atrás do que apetece é menos do que o óptimo. Por isso, nem tudo nem nada. Vejo, agora, que é importante haver planos e disciplina. Vejo, agora, que é importante manter-se efectivado a directivas a cumprir. Mesmo que não apeteça, houve um dia

Vontade de Morrer

Tenho vontade de morrer. Última vontade de desaparecer no mundo. Fusão com o Outro, que corre além de mim. Ser aquilo que sou em suspiro. Suspirar, e ser já, antes da prova, aquilo que sou. Vontade de morrer para, ultimamente, ser. Não ser arrastada ou obrigada ou limitada. Ser. Igual a mim, no infinito. Sem lágrimas, sem dor, sem sofrimentos. Ser. Com o Tudo de Tudo, no mundo do infinito sem igual. Morrer para ser.

Que nunca ninguém diga a outro que não é capaz!

"Que nunca ninguém diga a outro que não é capaz. Que nunca diga o que pode ou não pode fazer, do que é ou não é capaz. Ninguém sabe o que vai dentro das paredes, ninguém sabe o que corre nas artérias, a que velocidade, com que fúria, com que dor. Ninguém sabe nada senão de si mesmo, e muito bom é quando se sabe de si mesmo, quanto mais pensar saber dos outros. Impor limites ao seu semelhante é est ender-lhe dores e frustrações próprias, é projectar nos outros os nossos próprios receios, é achar que se eu não consigo, se eu tenho este problema, então também tu, por muito que queiras, os terás. Se eu não sou capaz, tu também não. Se a mim custa, a ti custará mil. Tristes profecias. Todas de desgraça. A experiência não é transmissível. Sabe quem vive. Sabe de si. A experiência dos outros é outra vida. Não é a nossa."

mais Amar e Servir

Jesus, será que a minha vida é orientada para Ti? Para mais Te amar e servir? Ao serviço de quem amo? Ao serviço da humanidade que acarinho? Aquilo que faço é para o meu ego, para o dinheiro, para a vida rica e com pouco trabalho? Ou aquilo que faço é orientado para Ti? Eu amo a vida. Eu amo sentir que estou Orientada para e por Ti. E perco-me. E sorrio no mundo leve e célere e pressionante e que quer sempre mais. Eu quero mais e mais. E não olho para quem sou. E a Ti regresso. Contigo me sento. A Ti entrego o meu dia. Para mais Te amar e servir.

Recomeça se puderes

Sísifo Recomeça... Se puderes Sem angústia E sem pressa. E os passos que deres, Nesse caminho duro Do futuro Dá-os em liberdade. Enquanto não alcances Não descanses. De nenhum fruto queiras só metade. E, nunca saciado, Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar. Sempre a sonhar e vendo O logro da aventura. És homem, não te esqueças! Só é tua a loucura Onde, com lucidez, te reconheças... Miguel Torga  TORGA, M., Diário XIII.

Princípio e Fundamento. A Indiferença Inaciana.

“ O homem foi criado para louvar, reverenciar e servir a Deus Nosso Senhor, e assim salvar a sua alma; e as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o Homem, para que o ajudem a conseguir o fim para que é criado. Donde se segue que há de usar delas tanto quanto o ajudem a atingir o seu fim e há de privar-se delas tanto quanto dele o afastem.  Pelo que é necessário tornar-nos indiferentes a respeito de todas as coisas criadas em tudo aquilo que depende da escolha do nosso livre-arbítrio, e não lhe é proibido.” in Princípio e Fundamento, Santo Inácio de Loyola A indiferença Inaciana não convida ao desapego como finalidade, mas à direcção dos nossos apegos, conforme nos aproximam ou afastam de Deus. O que me inquieta? O que me traz paz?  O que identifico que vem do mundo? E o que vem de Deus?  O que me frustra? O que me realiza? O ser interior superficial é sempre mais ruidoso e exigente, está ao nível dos nossos desejos mais imediatos e que atrapalham m