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Gostar, finalmente, "disto"



Pergunta-me a minha irmã, muito indignada, "Como é que consegues estar sem barulho à tua volta?". E fico a olhar para ela. Sinceramente, não sei.
De repente, hoje, esta tarde, depois de ter ouvido muita música e muito barulho, serenei-me e apeteceu-me o vazio. Apeteceu-me desligar a música e o barulho e deixar-me ficar sentada, no meu querido amigo pouff, a trabalhar.

Na minha cabeça já houve muito barulho hoje, mas de repente, serenei-me. Compreendi, mais uma vez, que enfrentar o silêncio e a ausência de pessoas que me acompanhem em todos os passos é aquilo que mais preciso agora. Porque hoje sei em que ponto estou, mas desejo redefinir para onde quero ir. Porque este é o Nosso eterno trabalho de casa, semana após semana, dia após dia, devemos conseguir entregar-nos a nós próprios e sermos capazes de redefinir o que pretendemos. Por isso eu sofria, há uns anos, com a perspectiva de passar 6A trancada em Lisboa para conseguir graduar-me num curso no qual eu não acreditava e de uma maneira que eu não acreditava. Mas a minha vida mudou tanto e tantas vezes, que estes quase 4A que já aqui estou não se comparam uns aos outros.

Correm-me as lágrimas, pelos olhos fora. Porque não cabem lágrimas em tudo aquilo que eu vi.


Por muito difícil que tudo tenha sido. Por muito trabalho que tenha havido, por muita diversão que eu tenha desperdiçado, não me desperdicei a mim. Andei pelo mundo. Abracei no meu mundo aberto tantos quanto pude e tantos quantos se deixaram infinitamente abraçar. Sou imperfeita, mas gosto-me, acarinho-me.
Estou solidária contigo, meu querido amigo, que te imaginas fechado e preso e trancado, a imitar e a esforçares-te por ser quem não és. Deixo aqui a minha promessa, que faço porque reflecte o que vivi, que a vida em si é uma surpresa, que não vais deixar de ser quem és, nem vais deixar de te viver como te gostas.

Abraças a mudança, sempre, mesmo que agora não o saibas, eu sei-o. Por ti?
Sorriso. Sorriso sério. Cheio de nobreza.

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