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O meu tutor do Algarve




Ontem, estava eu a almoçar, quando vislumbrei lá em baixo, sentada preparada para almoçar, a minha professora do ano passado da cadeira de Introdução à Clínica.

A minha professora é muito querida e dedica-se muito às aulas que dá.

E eu sinto que gosto e que percebo de Semiologia Médica e da importância que tem porque ela, que claramente era óptima aluna e detentora de muitos conhecimentos, era apaixonada por aquilo que ensinava!

A minha professora era de Faro, pelo que eu lhe disse, acerca do H.C.F., que tinha "estado por lá nestes últimos 6 meses".
"Ai foi?"
"Sim, inscrevi-me para fazer CEMEF 08 e dp fui arrastando-me por lá"
"Que bom! E que especialidade é que era?"
"Medicina Interna, como a professora sugeriu que era o melhor nesta altura, para aprender as bases. Fiquei entregue a um tutor que se empenhou muito em passar conhecimentos. E a professora em que especialidade é que ficou?"
"Fiquei em Neurocirurgia."
"Fantástico! Como a professora queria! Muitos parabéns! Este meu tutor vai agora para cardiotorácica, estava contente também"

E agora, o meu baque de coração. Prometo não voltar a falar dele. O mundo é muito demasiado pequeno para eu me dar ao luxo de poder falar de alguém que me deixa contente de forma anónima!! Não tinha o direito de falar dele às outras pessoas. Fiquei cheia de vergonha.


Ao redor da caríssima professora estavam os seus colegas lá do Serviço. Levanta-se uma voz, de alguém, que eu calculo ser também interno da especialidade:
"Como é que ele se chama?"

E eu não liguei, achei aquilo muito absurdo. E lá fui pegar na máquina fotográfica que a professora me estendia para tirar uma fotografia a ela e aos colegas que ali estavam. Quando fui devolver a máquina fotográfica em mão, repete o caríssimo colega "o teu tutor, como é que ele se chama?"
"Ele não é do Algarve"
Sorriso. "Não será o ******* *******?"
Corar. "Conhece-o? ... Pois, eu gostei muito de lá estar.."
"Sim, ele é um tipo porreiro!" (ou algo semelhante que não sei transcrever)
"E dedica-se a ensinar, que é coisa que sempre é proveitosa para nós, que queremos aprender!"
"Ele telefonou-me a dizer que tinha ficado colocado!"
"Ai foi? Pois, ele ficou contente! Ainda bem, assim pôde fazer aquilo que ele queria e que ele gostaria!"

Eu ainda me sentia corada. Ou talvez ainda mais corada. Não que fosse mau o que estivesse a acontecer, mas apenas porque era surreal e eu sentia-me a faltar ao respeito a alguém. Sem ter querido falar de alguém, mas apenas falar de toda a maravilha dos processos de ensino-aprendizagem (no fundo eu fui informalmente à mesa dela para agradecer as horas que ela dispensou àquelas aulas e às explicações práticas - que mais ninguém tinha dado e que me conferem vantagem), acabei por "mostrar" alguém àquele mundo. Eu estava a elogiar, mas não sei sequer se isso deveria ser feito.


Outrora tive a certeza que sim.

Mas agora já não sei.

Afinal o mundo é demasiado pequena e eu posso não dever elogiar e não o saber.

Comentários

  1. O mundo é pequeno mesmo. Já me aconteceu cada uma... Com as pessoas com as quais seria o mais improvável possível conhecerem-se ou terem alguma coisa em comum!

    Era uma querida a nossa professora de IC. E se a cadeira preferida dela era Farmacologia e ela era tão boa com semiologia...imagina como seria com farmacologia :P

    Beijinho * bom fim-de-semana

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