A primeira fase da relação, a primeira fase da paixão não é um correr atrás do outro.
É um verdadeiro correr atrás de si próprio.
É o verdadeiro decidir-se quem se é e daquilo que se gosta.
A primeiríssima fase passa por se sentir perfeito com aquela pessoa.
No início, não escolhemos o outro por aquilo que ele é, mas sim por aquilo que ele nos faz sentir e fazer.
No início, escolhemos aquele outro pelas decisões que torna fácil tomarmos.
Pelo ímpeto, pela confiança que nos transmite, aumentando a nossa sensação de perfeição.
Por nos fazer sentir que somos o melhor que poderia haver no seu mundo.
E colocamos tudo em xeque por isto.
Mudamos as nossas decisões, embevecidos na paixão, segundo a nossa nova polarização.
Ficamos com a certeza que conseguimos agradar ao outro se tomarmos esta decisão.
E era esta a decisão que sempre quisemos tomar, mas agora é mais fácil e parece mais perfeita ainda.
E é quando conseguimos ver com esta clareza,
quando conseguimos saber que nos colocámos no limbo por existir mais intensamente com aquela pessoa,
que sabemos que estamos na paixão.
Sabemos, então, que nos queremos conhecer mais naquela direcção.
Vemos a luz (ao fundo do túnel?) que nos ilumina da maneira como nos queríamos desde há muito ver.
Temos, connosco, alguém que olha para o nosso centímetro precioso.
Temos, connosco, alguém que nos faz querer para nós aquilo que sempre quisemos.
Temos, em nós, a ânsia de comunhão, de compaixão, de partilha. Queremos para o outro aquilo que ele quiser para si próprio. Porque haveríamos de lhe escolher algo contrário às suas aspirações?
É lixo que queres varrer? Escrevo o teu burrículo!
Quando eu quis extorquir apêndices podres, escreveste o meu, com um sorriso!
Naturalmente seguimos. Sem nos aperceber daquilo que vamos colocando no prego.
Isso só se descobre no fim.
E só se aceita que crescemos, que mudámos e que somos melhores agora muito depois.
Quem sabe, na paixão seguinte.
Quando houver a coragem de nos expormos outra vez.
Quando, outra vez, sentirmos que o xeque é melhor que o conforto.
Que o xeque é melhor que a segurança.
Que o xeque é uma nova experiência de integridade, um novo sinal de segurança, uma outra prova de conforto.
Estar em paixão é ir pondo mais e mais no prego. E gostar. Por aquilo que se dá espera-se receber a caminho. E o que importa não é o que recebemos do outro, isso não podemos escolher.
Só podemos escolher aquilo que damos, aquilo que sentimos, aquilo que assumimos. O resto é a puta da confiança que traz. Ou não.
So very true! Descreves duma forma explícita, complexa e conclusiva aquilo que todos nós temos medo de admitir a nós mesmos aquando duma relação!:)
ResponderEliminar"Sê verdadeiro para contigo próprio, e como o dia segue a noite, não poderás senão ser verdadeiro para com todos"
ResponderEliminarhummm.... ainda estou a digerir... as ideias são lúcidas e ao mesmo tempo cheias de contornos... terei de fazer uma viagem longa por lá!
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