Vou pedir um desejo ao Menino Jesus, que está no céu.
Vou pedir que eu consiga sentir. Que seja possível em mim sentir.
Em vez de bloquear tudo o que venha a mim.
Não ser a máquina, a Deusa, a Glória, que esperam de mim e que eu quero também conhecer de mim. Quero sofrer, se houver reversos. Quero ser contente, se houver inexpectáveis bênçãos.
Quero sentir, ó Menino Jesus!
Que eu possa sentir. Sentir.
Que possa eu ser sentimentos.
Que eu possa ser humana.
Que eu possa ser real. Como Tu.
Menino Jesus, estás a ouvir-me?
Quero saltar de uma ponte e sentir a gravidade.
Quero conduzir depressa nas curvas e sentir a força G.
Quero mudar de cidade e sentir-me sozinha e perdida.
Quero voltar à minha cidade e sentir-me amada.
Quero sentir sucesso. E quero sentir fracasso.
Quero sentir que domino. E que não valho nada.
Quero sentir.
Já chega de apatias, de perfeitas aparências, de ser o que se espera.
Não-sentir é o melhor para não exigir do exterior. Não-sentir é o melhor para não ser um fardo. Mas eu quero ser um fardo! Eu quero viver plural! Eu quero ser mais com alguém! E quero que alguém queira ser mais comigo! Eu quero ousar. Quero ameaçar decapitar. E quero que o outro tenha medo. Eu quero o meu equilíbrio e a minha integridade moral ameaçados e poder senti-lo. Eu quero sentir!
Em vez de bloquear, ignorar, assobiar para o lado até que as interpelações tenham passado.
Quando não se sente nada, quando tudo passa por nós, nos atravessa e não nos toca, temos a falsa sensação de estar perfeitamente enquadrados na realidade. Quando nada se sente, nada precisamos de procurar que não tenhamos já. Afinal, já estamos em equilíbrio! Este falso-estado falso-estar é óptimo. Um equilíbrio místico que é bonito visto de fora. E visto de dentro também!
Nada há a sentir, nada há a melhorar ou a lidar com.
E vêm ligeirinhas as afrontas ao equilíbrio superficial. Do interior tumultuoso, que sinceramente desconhecemos, emergem farpas que nos abalam. Sofremos e entristecemos por aleatoridades que desconhecemos.
Pudera! Nunca descemos ao submundo submerso subevertido!
Invertida esta nossa prioridade...
O que somos nesta vida, se não formos emocionalmente senhores de nós próprios?
O que somos se formos apenas experiências intensas e renovadas e ampliadas e só mais uma já já?
O que somos quando não sabemos o que nos farpeia, o que nos persegue, o que nos abraça?
O que somos em fuga, em dificuldade, em calamidade?
E no amor? O que somos no amor?
Quero sentir. Pausa para sentir.
As lágrimas. O tempo. O frio. O motor.
Eu. Aqui. Tudo. Sentir.
Gosto mt mt mt!!!
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