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Os tempos. E o aprendiz.


Os tempos difíceis servem para aperfeiçoar o aprendiz.
Elisa Lucinda.

O prazer da procura  e o prazer de aprender.
Apenas saciados na medida em que são alcançados, na medida em que se procura e na medida em que se aprende. Aquilo que já foi procurado não serve de pleno consolo, nem tampouco serve de pleno consolo aquilo que já foi aprendido. É preciso sempre cada vez mais para que se obtenha sempre cada vez mais a sensação de estar a aprender. Mas é só para quem quer.
 
Não querer aprender pode fazer parte, igualmente, de um modo legítimo de vida. Para esses, os tempos difíceis, o que serão? Quando nada de quer aprender, reconhece-se sequer que há tempos difíceis? quando nada de quer aprender, pensa-sequer que há tempos nos quais não há nada daquilo que se conhece que funcione, que nos traga proveito e avanço de vida?
 
Um tempo difícil é um tempo no qual os moldes que já se conhecem e que já se praticam não são suficientes para se cumprir e se alcançar aquilo que se pretende.
Um tempo difícil é aquele para o qual a solução passa por uma nova tentativa, mas no qual apenas se consegue ver e viver segundo os moldes já aprendidos. Só consideramos um tempo difícil como sendo difícil enquanto não conseguirmos achar para ele solução, ver nele mais glória, mais proveito. A solução, a novidade, a aprendizagem (para a qual se tem que estar disponível), traz consigo o desfecho aberto, traz consigo o prazer do que virá.
O tempo difícil como exercício de procura, nem sempre de dentro, nem sempre nos registos já praticados, de uma forma alternativa de viver aquilo que se afigura.

O aprendiz, sendo pela vida fora aquele que aprende, aquele que ainda não chegou . Mas onde?
O aprendiz, que aprende em qualquer situação. Porque tem um onde chegar.
O aprendiz que aprende porque se sente apto e aliciado a ir mais além e, que ainda assim, sabe que ainda não é tudo.
O aprendiz que não é definido pelo ponto onde chegou, mas pela mestria que há-de alcançar e de dominar. Aprendiz, como estado de ser.

Mas aprendiz de quê? Aprendiz de como? Aprendiz quanto?
Viver a Vida e deixar-se fluir. Caminhando em liberdade, sabendo que encontraremos e seremos mais completos se ousarmos aprender. Aprender em estabilidade, em coerência, em Vida. Em tudo quanto existimos, sobretudo onde foi difícil.
Aí interpelamo-nos.
 
Não é na dificuldade que se aprende, é na dificuldade que se confirma aquilo que já se aprendeu, aquilo que já se é e já se consegue ser. Aqui se encontra o prazer, revestido de sofrimento e angústias. Quanto melhor somos, mais profundamente e mais livremente estamos dispostos a viver a dificuldade. Aquilo que sabemos e aquilo que aprendemos apenas nos trouxe aqui. A novidade é o caminho. O que há a temer?
Não é na dificuldade que se sente a perfeição. É difícil reinventar-se na dificuldade.
Não é a dificuldade que salva, é o Amor.

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