As fronteiras que se fecham, a nós, cidadãos do mundo.
As fronteiras que se fecham.
Hoje fui ao Consulado altamente tecnológico de um país africano, altamente a desenvolver-se. E foi uma experiência mediocre de existência. Não senti nada enquanto lá estive a não ser "trata do que precisas". Uma visita necessária para conseguir autorização para ir, para estar.
Embora o Consulado seja um sítio óptimo e limpo e claro e transparente, com senhores engravatados e de lenço na lapela e com sorriso, tudo o resto sabe-me a pouco. Há ali montes de cenas que não me fazem sentir parte de um mundo perfeito, onde a existência esteja alinhada.
Uma rodinha de meninos e de meninas com 25-30anos (esta é a minha faixa etária, também, por acaso), vestidos como se fossem a um casamento, na risotinha e na conversinha de circunstancinha. Imagino-os menininhos e meninhas das empresas que vão para o país com maior taxa de crescimento. O mundo move-se para onde há o lucro. E acho bem, eu faço o mesmo com a minha pequena vida, movo-me para onde há vida com a mesma força e polarização que eu, não me detenho em lodos e pântanos perdidos.
E esta rodinha de gentinha lindinha estava toda contentinha e maquilhadinha.
No meio de toda uma sala de espera de brancos, barrigudos e de fato, e de pretitos e de funcionários corpulentos engravatados e cheios de protocolos.
Estou a fazer entender alguma coisa daquilo que vi?
E neste mundo de paredes lindas e de vidros temperados e de scanners de BI's e de detectores de metais e de senhas e de ecrãs que piscam números e do programa da Júlia Pinheiro em ecrãs LCDs aos berros em directo, dificultam-se e encravam-se o acesso ao seu território.
A lista de cenas aleatórias que são necessárias para obter um visto de turismo ou um visto ordinário é absurda.
Pela primeira vez na minha curta vida, eu, cidadã do mundo, nascida e criada em Paris, voluntariamente movida e educada no Algarve, formatada em Lisboa, encostaram-me um ferro quente e não me permitiram entrar no seu território.
Tanta palavra para dizer: é dificultada a obtenção de vistos para Angola.
E é isso que fica. Depois deste dia exaustivo mentalmente, do qual apenas 30min foram passados no Consulado. É este o sentimento que fica. Tudo é difícil. E só me querem lá depois de eu garantir que não quero o dinheiro deles. Exigem o meu extracto bancário milionário.
E vou descansar. Sem vistos. Mas com maneira de o conseguir. Que implica ir aos balcões bancários. E que implica ir às vacinas. Agora, já, esta manhã.
E deito-me, agora, em paz.
Com respeito por mim própria, que não consigo tudo.
Que aprendo a viver, que aprendo a aceitar que não consigo, que aprendo a aceitar que nem tudo existe já.
Aprender que estes grandes abanões que procuramos ter nas nossas vidas são feitos com decisões somadas a decisões.
E é assim que alcançamos o fim do nosso arco-íris. O tesouro eternamente pretendido. Vivendo as angústias e percebendo que, ainda assim, é por ali que queremos ir. Decidir uma e outra vez que aquela decisão e que aquele compromisso fazem sentido na nossa vida.
Decidir em consciência e em coerência, vez após vez, é a melhor solução para obtermos aquilo que queremos mesmo. Até mesmo quando nos fecham as fronteiras.
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