Contento-me, não raras vezes, por perceber aquilo que, superficialmente, me falta.
E, outras vezes, percebo que apenas saber superficialmente aquilo que me falta não define exactamente aquilo de que preciso.
Se eu apenas consigo elaborar frases do tipo "acho que preciso de companhia para almoçar", isso não me permite ir ao fundo da questão. Não me permite perceber a real necessidade que tenho na vida.
Sei que estou descontente com a vida.
Sei que estou descontente com o modo como as coisas estão colocadas na minha vida. Mas não sei o quê. Nem como. Não sei sobre o que devo actuar.
Para não descobrir dolorosamente a verdade de mim e daquilo que não faço e não vivo exemplarmente, não chego a descer a parte nenhuma. Este modelo de actuação funciona bem durante uns tempos. Até que nos sentimos descontentes e não sabemos o que fazer. Porque nada de doloroso ou problemático está claramente identificado. Ou porque, ainda que o identifiquemos, não há como o exteriorizar. Preciso vorazamente de comunicar aquilo que identifico. Preciso desesperadamente de o fazer. Sou um ser de companhia, de convívio, de partilha. Sou um ser que escolhe sinceridade, ainda que mal-tratada. Que escolhe crueza, espontaneidade, completude. Escolho ir mais além para fora. E para dentro? Quando é que escolho ir mais além cá dentro?
Sonho e luto pelo futuro, sem ter força ou coragem de amar ou sentir o meu presente. E tardei em perceber tudo isso. E agora que percebo, o esforço em descer ao fundo, conscientemente. A dor trará sabedoria, a desolação trará confiança, com a viagem solitária virá o amor na companhia. Trabalho sincero em si próprio antes do trabalho que pode gerar frutos exteriores.
Amar a vida e os seus revés, conhecendo os seus amargos e as suas agressividades.
Hoje quero-me a mim, verticalmente. Desde o superficial sorriso ao profundo pesar. Não sei o que vou encontrar, mas ponho-me a caminho.
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