Avançar para o conteúdo principal

Tríduo Pascal vivido


Acho que desde que fui a Taizé que me habituei a permitir afundar nestes dias da Semana Santa. Saber que juntos, em comunidade, fazemos um caminho de entrega, uma vida de Tudo-por-Tudo, segundo as suas leis, segundo os seus desígnios. Nestes dias autorizo-me a descer ao fundo. A pensar o mais negro, o mais triste. Eu, com toda a comunidade Cristã. Assim sei que vivo na minha carne este Tríduo Pascal.
Saber que há a dor, viva, real, assente nos valores em que acreditamos, nos modos que defendemos, em Cristo, em Amor, em Esperança.
Saber que, no fim, há o Perdão Completo, maior que a nossa compreensão.
Saber que não caímos sem fim.
Saber que não caímos fundo, para sempre. Que estamos Com Ele.
Fazer como (quero crer) Ele nos pediu: permitir que Ele seja concreto para nós. Que este Jesus que luta pela sua "imagem" de fiel ao Pai e à Vida Gloriosa que conhece, ilumine os nossos dias. Que este Jesus, que desce e que sobe, com a Cruz, com a multidão que grita, com os amigos que o hão-de negar, seja o nosso solo seguro.

Ouso reconhecer as minhas dores. Ouso viver a fundo os amargos que nos causam desgosto. Ouso pensar e sentir a mágoa que causo nos outros. Ouso colocar-me no seu lugar, completamente. Viver, em aceitação, da minha Natureza humana. Pobre, doméstica, encavacada, encapsulada, inapta, inadaptada. Medíocre. Eu.
Ousar ser como sou, perante mim, perante Deus. Preparar-me mais e mais para o ser perante os outros.

Aceitar a dor. Não fugir dela. Não ter medo de sofrer. Não ter medo de não querer a alegria gloriosa. Não ter medo de preferir o castigo pela minha imperfeição. Não ter não's. Ter viva a Vida que Jesus teve, que Jesus mostrou publicamente, que Jesus ensinou, que Jesus quis sofrer para defender As convicções. Ter-me. Completa.

A glória virá. Com tudo o que ela representa. Com tudo o que imagino que possa ser. Com tudo o que sei que pode ser. Com tudo o que conheço dela, que sinto dela, que escolho viver.

A glória virá. Mas hoje escolho não fugir de mim ou do meu lado triste. Hoje coloco na alma a Cruz de Jesus, a Cruz da Humanidade e humilde me fico. Sentir. Rezar. Orientar. Aceitar. Perdoar. Para a Glória. Aquela do êxtase e aquela da dor também. Amar-me como ser completo. A glória virá.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O Primeiro Amor - Miguel Esteves Cardoso

É fácil saber se um amor é o primeiro amor ou não. Se admite que possa ser o primeiro, é porque não é, o primeiro amor só pode parecer o último amor. É o único amor, o máximo amor, o irrepetível e incrível e antes morrer que ter outro amor. Não há outro amor. O primeiro amor ocupa o amor todo. Miguel Esteves Cardoso – Os Meus Problemas (1988)

Avolia - Porque sonhar às vezes custa

Está mais do que visto, na minha vida, que este expôr e re-expôr que se deve fazer O QUE APETECE não é à medida do meu mundo. Estas últimas semanas de avolia foram o expoente disso. Há estadios intermédios nos quais o que apetece é o nada. E o nada, agora, não me leva onde eu quero. Quando me concentro com muita muita força, re-sinto como sendo meus aqueles projectos, sonhos, devaneios nos quais já não acreditava. Não acreditar. Não apetecer. Clinicamente, chamamos-lhes desesperança e avolia . Caracterizam, entre outros, o estado de não-querer-ser . Não-se-querer-conhecer-no-expoente-máximo . Mesmo havendo réstias do querer, não conseguir. É o não ver razões para. Então, aquilo que apetece fica-se pelo medíocre . E depois fica-se pelo nada . E ir atrás do que apetece é menos do que o óptimo. Por isso, nem tudo nem nada. Vejo, agora, que é importante haver planos e disciplina. Vejo, agora, que é importante manter-se efectivado a directivas a cumprir. Mesmo que não apeteça, houve um dia ...

Vontade de Morrer

Tenho vontade de morrer. Última vontade de desaparecer no mundo. Fusão com o Outro, que corre além de mim. Ser aquilo que sou em suspiro. Suspirar, e ser já, antes da prova, aquilo que sou. Vontade de morrer para, ultimamente, ser. Não ser arrastada ou obrigada ou limitada. Ser. Igual a mim, no infinito. Sem lágrimas, sem dor, sem sofrimentos. Ser. Com o Tudo de Tudo, no mundo do infinito sem igual. Morrer para ser.

Que nunca ninguém diga a outro que não é capaz!

"Que nunca ninguém diga a outro que não é capaz. Que nunca diga o que pode ou não pode fazer, do que é ou não é capaz. Ninguém sabe o que vai dentro das paredes, ninguém sabe o que corre nas artérias, a que velocidade, com que fúria, com que dor. Ninguém sabe nada senão de si mesmo, e muito bom é quando se sabe de si mesmo, quanto mais pensar saber dos outros. Impor limites ao seu semelhante é est ender-lhe dores e frustrações próprias, é projectar nos outros os nossos próprios receios, é achar que se eu não consigo, se eu tenho este problema, então também tu, por muito que queiras, os terás. Se eu não sou capaz, tu também não. Se a mim custa, a ti custará mil. Tristes profecias. Todas de desgraça. A experiência não é transmissível. Sabe quem vive. Sabe de si. A experiência dos outros é outra vida. Não é a nossa."

mais Amar e Servir

Jesus, será que a minha vida é orientada para Ti? Para mais Te amar e servir? Ao serviço de quem amo? Ao serviço da humanidade que acarinho? Aquilo que faço é para o meu ego, para o dinheiro, para a vida rica e com pouco trabalho? Ou aquilo que faço é orientado para Ti? Eu amo a vida. Eu amo sentir que estou Orientada para e por Ti. E perco-me. E sorrio no mundo leve e célere e pressionante e que quer sempre mais. Eu quero mais e mais. E não olho para quem sou. E a Ti regresso. Contigo me sento. A Ti entrego o meu dia. Para mais Te amar e servir.

Recomeça se puderes

Sísifo Recomeça... Se puderes Sem angústia E sem pressa. E os passos que deres, Nesse caminho duro Do futuro Dá-os em liberdade. Enquanto não alcances Não descanses. De nenhum fruto queiras só metade. E, nunca saciado, Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar. Sempre a sonhar e vendo O logro da aventura. És homem, não te esqueças! Só é tua a loucura Onde, com lucidez, te reconheças... Miguel Torga  TORGA, M., Diário XIII.

Princípio e Fundamento. A Indiferença Inaciana.

“ O homem foi criado para louvar, reverenciar e servir a Deus Nosso Senhor, e assim salvar a sua alma; e as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o Homem, para que o ajudem a conseguir o fim para que é criado. Donde se segue que há de usar delas tanto quanto o ajudem a atingir o seu fim e há de privar-se delas tanto quanto dele o afastem.  Pelo que é necessário tornar-nos indiferentes a respeito de todas as coisas criadas em tudo aquilo que depende da escolha do nosso livre-arbítrio, e não lhe é proibido.” in Princípio e Fundamento, Santo Inácio de Loyola A indiferença Inaciana não convida ao desapego como finalidade, mas à direcção dos nossos apegos, conforme nos aproximam ou afastam de Deus. O que me inquieta? O que me traz paz?  O que identifico que vem do mundo? E o que vem de Deus?  O que me frustra? O que me realiza? O ser interior superficial é sempre mais ruidoso e exigente, está ao nível dos nossos desejos mais imediatos e qu...