Coloquei-me numa encruzilhada e fechei os olhos à espera que viessem contar-me ao ouvido o que fazer.
Num sítio onde tudo podia ser decidido e onde tudo é possível, fiquei quieta de olhos fechados.
Disse a alguém para fazer o que quisesse de mim. Do meu corpo, do meu ser, da minha alma.
Disse-lhe "toma, aqui estou". Fechei os olhos e fiquei à espera.
E nada aconteceu. Não fui colhida por nenhuma mão, por nenhum homem, por nenhuma vida. Toma-me, aqui estou. Repeti-me, tornei-me clara. E nada aconteceu.
Disse ao outro homem, colhe-me e vive-me segundo a tua vontade.
Não me amando a mim, não o obrigando a ter-me,
Quando não decidimos nós, pedimos ao outro que viva a Vida em vez de nós próprios.
"Vive tu em vez de mim". "Vive-me".
E sei que lho disse porque pouco me importo aquilo que lucro da vida. Luto para ser eu ajuda e amor e coragem na vida dos outros. Dissolvo-me em amores pelo vento, pelos outros. Outros sem cara, outros anónimos. Outros. Entrego-me ao Outro. Até me esgotar. Até perder o rumo. Sou Vossa. E perco o rumo. Fico nas encruzilhadas da vida.
E a encruzilhada de hoje é muito concreta. A encruzilhada de hoje não representa a dissolução pelos outros, mas sim a dissolução por um homem, único. Sinto-me dele, vivo como se fosse dele, e nele me dissolvo.
Até me sentar, sofrer.
Até reconhecer que não sei o que quero ou para onde vou. Até reconhecer que estou de olhos fechados, recusando-me seguir qualquer caminho.
Reconhecer que fingimos que não sabemos o que fazer é um óptimo primeiro passo para sair de encruzilhadas. Finjo que sem a decisão dele não tenho rumo. Finjo que nada mais importa.
Até me sentar, abrir os olhos.
Até reconhecer que tudo continuou igual. Até reconhecer que revirei o meu mundo interior e o meu pequenino mundo exterior, mas que tudo continua igual. Até reconhecer que aquilo que mexe e que aquilo que me coloca a sofrer é um fragmento de mim, não sou eu completa. Eu sou isso, mas sou outras glórias, outras lutas, outros sorrisos e esperanças. Eu sou Vida, quando abro os olhos e quero sair das encruzilhadas.
Estou na encruzilhada à tua espera.
E vou abrindo, de esguelha, os olhos. Os olhos da consciência, que me imploram que corra determinada e esperançosa para a luz da minha vida.
Para quê continuar de olhos fechados em encruzilhadas que crio?
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