Nós adoramos saber que somos diferentes. Nós adoramos saber que os outros tratam toda a gente segundo um certo padrão e nós segundo outro.
Sentirmo-nos privilegiadas.
Até que o mundo cai. Até que somos apenas mais uma, sem identidade, sem definição pessoal, sem características. Até vermos que as piadas que nos fazem são as mesmas, que as linhas orientadoras de discurso são as mesmas, que tudo no universo é o mesmo.
Somos um mar de mulheres. Mulheres com vaginas.
Somos portadoras de vaginas. Até conquistarmos individualidade.
Mulheres que serão dominadas nas mesmas posições, com as mesmas velocidades, nos mesmos cantos da cidade.
Somos mulheres que recebem o mesmo sorriso. Não somos individuais.
Enquanto o mundo corre sem sobressaltos, não existimos como nós próprias, mas apenas como indivíduos a conquistar. O prémio é, suavemente, fazermos saber que abriremos as pernas. Ainda que estejamos a conversar segundo o mais elegante dos modos e com o mais digno dos homens. A natureza animal e a natureza humana fazem-nos mulheres portadoras de vaginas, docemente embaladas até ao ponto em que suavemente prometemos afastar as pernas.
Nesse ponto tudo é possível. Somos úteis à cama ou somos inúteis à cama e úteis ao ego. E ficamos por ali.
Só mantemos interesse e motivação ao outro enquanto a cena correr fluída. Manter a fluidez da conversa é o que se pretende para manter a atenção e a vontade de mais.
Todos quebraremos a fluidez. Mas, como será que o faremos? Vamos ter uma má atitude? Ou uma boa atitude?
É nesse ponto que conquistamos a individualidade. É nesse ponto, de sobressalto, que mostramos que somos inteiras e individuais, distintas daquele que está perante nós.
E quando conquistamos a individualidade, o que escolhem fazer connosco? Fico à espera.
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