Sou estupidamente inconstante no meu trabalho, na minha capacidade cognitiva.
Porque sou constante nos afectos. E é a isso que me agarro para não pensar mal de mim, para não deitar quem sou ao lixo. Minha querida, és inconstante a trabalhar, porque és constante e fiel aos teus afectos.
Quando o mundo emocional precisa de mais dedicação, de arrumar mais a tenda dos afectos, de perceber, clarificar, arejar aquilo que se sente, então, esse mundo leva toda a energia e toda a vontade de viver. Não se pode descurar a vida e aquilo que sentimos!
Se sou constante com os afectos, se podem confiar em mim plenamente, então, é porque deixarei livremente as obrigações profissionais para saciar as obrigações emocionais.
Pena é que ninguém veja estas.
Como é que, visto de fora, valorizam o longo trabalho íntimo e pessoal de reconstrução, de evolução emocional? Como é que, visto de fora, se percebe que prezo mais o meu crescimento como pessoa humana e que sente e que sofre e que vive intensamente, do que o crescimento exterior e profissional? Como é que explico que prefiro a estabilidade e a intensidade emocional, que busco sem reticências, do que a estabilidade na quantidade de trabalho produzida?
E o mundo exterior brinda-me com aquilo que já se sabe. Se não produzo trabalho estável, não tenho resultados e valorização estável. Se não me dedico por igual, não recebo por igual.
E há, então, os dias bons, os dias maus e os dias médios.
Há os dias em que produzo e interiorizo excelsamente.
Há os dias em que não consigo e sou feliz, ainda assim.
E há os outros. Aquele em que sento, em penitência, em castigo, para começar a trabalhar, e a vontade não vem. E o trabalho não começa.
Esses são os dias dolorosos.
Esses são os dias, vistos do futuro, tornam a minha existência e o meu percurso um sítio cinzento. Esses. Os dias em que queria trabalhar, mas em que não havia esperança ou felicidade concreta que me movesse. Os dias em que as reservas de bom são escassas. Os dias em que prefiro desistir de mim, de ti, do trabalho. Os dias em que me entregava, interiormente, ao que sentia, sem me lembrar de imaginar aquilo que iria sentir amanhã.
Mas há um amanhã. Há um amanhã glorioso. Um amanhã reinventado, renovado, sem precedentes.
Há uma coragem de perceber que aquilo que estou a fazer não me leva a nada. Perdido por cem, perdido por mil. E reinvento a vida, o modo, a esperança. E sento-me noutra vida. E sento-me noutra vida.
E relanço o brilho de trabalhar. Requalifico os objectivos, a vontade, a crença.
E relanço-me. Fecho os olhos e procuro como.
Se eu hoje me relançasse, com amor por mim própria, sem medos e sem restrições, o que faria?
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