Sabem o que é chorar?
Conhecem aquela sensação de não haver mais nada no mundo de possível para além de se deixar ir e deixar sentir? E quando se sente e se deixa ir, aquilo que surge são lágrimas.
Correm as lágrimas. Porque não sei o que aconteceu. Porque a minha vida não encaixa ali.
E perante o ali que vi, recuso a encaixar a minha vida. Recuso. Tal não existe e tal não acontece.
E sou eu que escolho consciente aquilo que tolero e aquilo que não tolero. E o teu corpo com o corpo de outra pessoa, não tolero. Imbecil eu. Antiquada eu. Inadequada eu. Otária eu. Eu, má. Eu, feia. Eu, imperfeita. Mas eu não vejo aquele espectáculo e continuo serena. Qualquer outra, mas não eu.
E correm as lágrimas.
As lágrimas de dor.
As lágrimas de engano.
As lágrimas de desespero.
As lágrimas que pesam, que doem. As lágrimas.
Não há mundo diferente. Não há mundos com príncipes. Não há mundos com respeito. Não há.
Se os há, já passou tanto tempo desde que vi o último que já duvido da sua existência.
Choro. Pelo príncipe que se suicidou, no meu imaginário. Cavalo abaixo.
E ainda me veio dizer que estava com a consciência tranquila. Depois da sua própria queda. Que ele próprio provocou.
E choro. Triste. A confiança que não é validada. A vontade que não é solidária. O tempo que não tem o mesmo valor. E choro. Mas... quem quer saber? Não choramos todos? Não nos desiludimos todos? Não sentimos todos a traição a rasgar nossos corpos e nossos peitos?
Sentir intenso como sinto não é próprio de se ser humano?
Então, escolho ser humana.
Escolho, outra vez, confiar e ser morta. Escolho, outra vez, rasgarem-me, dilacerarem-me. Escolho que me queiram anulada e a sofrer. Escolham isso para mim. Voltarei a erguer-me. E hei-de aparecer igual a mim, novamente. Sei quem sou e não me falho a mim própria.
Eu não falharei a mim própria. Porque me conheço. Porque me amo. Em graça, em glória, em mim. Na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza. Eu me amei a mim e não me abandonei. E hoje, por muito que te tenha querido, é apenas a mim própria que tenho.
"Estou contigo agora, mas estarei comigo até ao fim dos tempos."
"Sê verdadeira para contigo própria, e seguir-se-á, como o dia segue a noite, que não poderás deixar de ser verdadeira para com todos os outros."
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