E o tempo passa.
Envolvo-me em pessoas, em projetos, em vidas, e o tempo passa.
Agarro-me às sombras escuras que me povoam, que me perseguem. Aninho-me no amargo e na minha solidão.
Não choro, mas podia fazê-lo. Não páro, não morro, mas podia fazê-lo.
O tempo suspenso desatina-me, numa obstinação por tudo concretizar agora.
É o tudo que eu quero agora.
Quase como se fosse uma criança, como se fosse pequena inconsciente que não espera mais do futuro do que recebe das sombras.
Ao futuro nego a consciência, nego a vontade, nego a esperança.
Ao futuro renuncio.
É no agora que moro e onde quero enraivecidamente ficar.
É ao agora que quero que respondas e que correspondas.
Criança eu, que não espera no futuro, que não sabe que há mais tempo do que tempo que viveu e que saboreou.
Criança eu que não quer esperar, que não concebe haver outra realidade que não aquela sentida e gemida.
A realidade que gemo, em silêncio, cruelmente entregue à solidão. Uma recusa clara, vida em obstinação. Se não te tenho a ti, que mais ninguém eu queira ter. Nem há coragem de alcançar o telefone ou de sonhar qualquer outra presença.
Não vivo no sofrimento, mas vivo na obstinação. Vivo na inquietude, no remoinho do vento (ou será da água?), no inconcreto violentamente suspirado.
Ainda que seja, não o quero ser. Recuso-me.
A vida. A vida ou é agora, ou que não o seja.
Qual futuro sonho eu, se nem sonho o presente. Exijo o presente. Que desobedece à obstinada obsessão.
Desejo. Corpo. Hermita, que não sai de casa para não se dilacerar. Não rasgar o corpo da alma que sem ele pouco se fica.
Alma. Sentir. Voar. Ser em tudo e para todos sem esperar de volta. Querer para ti aquilo que quiseres para ti mesmo. Fazer zoom-out da vida, do sentir, do concreto. Ir, pelo mundo, pela esperança. Deixar-se ir ao Absoluto, na confirmação que há mais para além daquilo que agora se conhece.
Janela de esperança? Ir à Alma, ao Voo, ao Absoluto para desafunilar do Agora obstinado e inquieto?
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