Lembrei-me, de repente, no carro, enquanto vinha de Salir, nesta noite de Natal, que me aflige muito deixar de confiar aos meus pais uma série de responsabilidades, ou seja, transferi-las para outra pessoa. Se eu tivesse que escolher uma coisa que neste momento fulminasse o que sinto, seria, de longe, essa: o facto de eu colocar em alguém competências dos meus pais. E são coisas muito simples, como por exemplo, ser tapada à noite, ou descascarem-me fruta, ou ajudarem-me a vigiar as horas a que me deito. Para o bem e para o mal, os meus pais são isto para mim, este somar de pequenas coisas (que muitas vezes me agoniam). E agora voltam a agoniar-me. Acho que a própria ideia base que me faz estar com alguém não encaixa em mim. Eu penso sempre que estou ou estarei com alguém para partilhar, ou seja, para mostrar partes de mim e querer ver outras partes, comparar a minha forma de estar com a de outra pessoa. Curiosidade. Mas não foi isto que imaginei para mim quando fosse grande. Quand...