À noite, os anjos dormem. Sonham, repousam do desafogo e do desassossego que lhes damos. À noite, os anjos deixam-se cair, no encosto, no conforto, no amor da casa. À noite, os anjos descansam. Esquecem as pretensões e acarinham as memórias. À noite. De dia, os anjos são guardiões secretos dos segredos que só eles conhecem, dos pensamentos que só eles constroem, dos olhares que guardam sem revelar. Por isso, de dia, os anjos vestem-se de vermelho e esperam para atacar. Atacar até que caia o Sol, durmam os homens, se liguem as luzes e os pirilampos e os mares se sacudam. Porque, se eu vivo de noite, os anjos escondem-se de dia.