Sabem o que vos conto de mim? Coloquei-me numa encruzilhada e fechei os olhos à espera que viessem contar-me ao ouvido o que fazer. Num sítio onde tudo podia ser decidido e onde tudo é possível, fiquei quieta de olhos fechados. Disse a alguém para fazer o que quisesse de mim. Do meu corpo, do meu ser, da minha alma. Disse-lhe "toma, aqui estou". Fechei os olhos e fiquei à espera. E nada aconteceu. Não fui colhida por nenhuma mão, por nenhum homem, por nenhuma vida. Toma-me, aqui estou. Repeti-me, tornei-me clara. E nada aconteceu. Disse ao outro homem, colhe-me e vive-me segundo a tua vontade. Não me amando a mim, não o obrigando a ter-me, Quando não decidimos nós, pedimos ao outro que viva a Vida em vez de nós próprios. "Vive tu em vez de mim". "Vive-me". E sei que lho disse porque pouco me importo aquilo que lucro da vida. Luto para ser eu ajuda e amor e coragem na vida dos outros. Dissolvo-me em amores pelo vento, pelos outros. Outros sem...